A trégua será dada até sexta-feira, 16. Samuel e Michael Klein, das Casas Bahia, e Diniz assumiram o compromisso moral de continuar conversando e não tomar nenhuma decisão radical. Diniz deve retornar ao Brasil na quinta-feira, 15.
Há uma expectativa de que alguns dos pontos pendentes no acordo de fusão possam avançar após o encontro com os franceses. Uma nova reunião entre o comando do Pão de Açúcar e a família Klein deve acontecer até o fim dessa semana, na sede da Casas Bahia, em São Caetano do Sul (SP).
Ações em queda
A indefinição quanto aos rumos do negócio teve reflexo nas ações do Grupo Pão de Açúcar. Ontem, os papéis da companhia apresentaram queda de 4,98%. Foi a empresa do Índice Bovespa que mais se desvalorizou no dia. Em relatório a clientes, a analista Juliana Campos, da corretora Ativa, disse que, caso a associação não seja concretizada, o preço-alvo para dezembro de 2010 sofreria uma queda de 11%, de R$ 83,45 por ação para R$ 69,19 por ação.
Para o analista do setor de consumo da Planner, Pérsio Nogueira, enquanto houver dúvidas em relação à concretização do negócio, as ações do Pão de Açúcar podem sofrer uma desvalorização entre 5% a 10% em comparação com o valor que vinha sendo negociado antes do anúncio da revisão dos termos do acordo.
Segundo o analista da SLW, Cauê Pinheiro, o mercado já tinha precificado os ganhos de sinergias para o Pão de Açúcar com as Casas Bahia. "Caso o negócio não aconteça, o mercado vai devolver os ganhos dos papéis nos últimos meses", disse.
Entenda o impasse entre as companhias
Há mais de dois meses a Casas Bahia mostra sinais claros de sua insatisfação com o contrato de fusão com o Grupo Pão de Açúcar. A família Klein entende que seu negócio está subavaliado em pelo menos R$ 2 bilhões e quer rever essa cifra. Em dezembro do ano passado, quando o acerto foi feito, a rede o foi avaliada em R$ 6 bilhões.
As companhias discordam em alterar pontos como a reavaliação do valor dos ativos da Casas Bahia, a serem integrados na nova empresa criada com a fusão. A Casas Bahia não aceita receber R$ 130 milhões em aluguel pelas mais de 500 lojas que farão parte da nova companhia. Além disso, a cadeia quer se desfazer de parcela maior das ações da nova empresa que tem em mãos. Pelo acordo original, ela só pode começar a fazê-lo em 2011.
Por outro lado, o Pão de Açúcar já deixou claro aos Klein que a situação não é tão simples. A rede terá que integrar a Casas Bahia à sua estrutura e isso vai levar tempo e dinheiro. As duas redes têm formas contábeis diferentes de calcular indicadores, como provisão de débitos e atraso de pagamentos.
A taxa de inadimplência na Casas Bahia chega a 12% em algumas regiões do País e, na média, está em 10%. No grupo Pão de Açúcar essa taxa não passaria de 5%. Além disso, o Pão de Açúcar já ressaltou que será preciso investir na integração das redes, e essa conta é alta.
O vazamento do caso foi interpretado pelo Grupo Pão de Açúcar como uma forma de pressão por parte da família Klein.
Fontes: Valor Econômico, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo